Para minha irmã Margarete
Havia 30 anos que eu não pisava ali. Exatos 30 anos. Uma
vida. Muita coisa mudou. Na travessia entre as cidades de Santa Inês e
Pindaré-Mirim, busquei na memória as imagens guardadas de uma criança de 7
anos.
Pouca coisa sobrou da mata que separava as duas
cidades. Casas e comércios existem agora no que antes era apenas a relva
verde.
Sentado sempre na parte da frente do
Expresso Florêncio, inconfundível pelo colorido de sua
lataria, buscava os primeiros traços da cidade onde eu
sempre passava as férias na casa de minha irmã Margarete.
Na entrada da cidade ainda existe o campo de futebol, hoje,
com o muro de proteção mais alto. Meu Deus!!!! Como as crianças, a gurizada faz
hoje para ver os jogos? Tem que pagar?
Calmamente eu tentei recobrar os lugares-memórias, mas tudo
mudou, tudo muda, quiçá 30 anos depois. Avistei algo difícil de
apagar: o majestoso e velho engenho, guarnecendo o rio que batiza a
cidade. Não é mais suntuoso como antigamente.
O Rio Pindaré me pareceu dessa vez mais raso, mais
estreito e não tão assustador como antes. No rio acontecia o programa
da família predileto: pescar. Eu, o menos hábil e adestrado na matéria, quase
nunca pescava nada. Meu pai sempre se ria quando me perguntava quantos eu já
havia fisgado. A resposta era sempre a mesma: – Zero peixe!!!! Gargalhadas.
A outra margem já está completamente ocupada. Aluguei
um barco e na companhia das minhas filhas Lucía, Milene e da babá Luciana,
descemos rio abaixo. Lucía, a mais velha, me perguntou se era nesse rio
que eu brincava quando criança. Alegremente respondi que sim. Foi uma
festa quando elas viram crianças nadando na parte funda, patos, galinhas,
porcos dentro d’água e não podia deixar de faltar pessoas pescando com caniço,
tal como fazíamos 30 anos atrás.
Preparei-me para o grande encontro: a casa onde minha irmã
morava. Hoje é uma “quitanda” (comércio), já bastante modificada. Nesta
rua sem saída havia uma praça em frente à casa. Do outro lado, havia
uma espécie de pequena fazenda com animais, muitas árvores e um pé de
limãozinho que, Ribamar, amigo de infância, sempre pegava para mim.
No final da rua, uma igrejinha. Ainda está lá, mas
completamente modificada. Lembrei-me das brincadeiras noturnas, o primeiro
beijo, o teatro infantil, o futebol, e claro, o rio, sempre ele, espaço de
fascinação-adoração-desejo e muito medo. Eu o amava e o temia ao mesmo tempo.
Eu sempre o contemplava no sentido oposto da casa de minha irmã no fim da
rua, ladeira abaixo. Não resisti e fiz o mesmo percurso. Ele
estava muito raso. Já não sentia o seu vigor como antes. Ele mudou, e
eu também.
E nos meus pouco mais de três anos transitando por essas bandas já vi muita coisa mudando, e já mudei muito minhas formas de ver... em trinta, então!!! Mas Pindaré ainda se mantém um charme!
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