sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O mundo tal como concebemos irá mudar




Experiência necessariamente não é algo transmitido, isso depende de como cada um a interpreta, ressignifica e tira lições. História é uma disciplina inglória: contém parte de todo o conhecimento do passado, e, ainda assim, não consegue explicar ou evitar nada, no máximo, fazer ilações e conjecturas. 

Não é de hoje que temos nos debruçado sobre o nosso passado, extraído significados de outras experiências civilizacionais, construído utopias e arquétipos acerca de um modelo de vida ideacional. Mesmo assim, apesar do acúmulo de registros, dos papéis amontoados, documentos, museus, documentários, filmes, romances, poemas, músicas, peças teatrais, cujos temas se debruçam sobre a condição humana, e tantas reverberações sobre o mesmo tema a partir destas linguagens, não chegamos a um denominador comum, apenas e tão somente hipóteses.

Na verdade, virou até démodé discutir existencialismo, a prevalência da pragmata e do individualismo exacerbado jogou para plenipotência a condição de que ter e se dar bem são os únicos motes a serem perseguidos, afinal, o que foge disso é mera especulação subjetiva, crivada por discursos metafísicos, como a religião e a filosofia.

Há um tempo atrás, a NASA (agência espacial estadunidense) publicou uma foto que deu o que falar. Na imagem aparece a sombra da sonda que se encontra naquele planeta e algo de suspeito ao lado dela. A princípio, a silhueta deriva uma percepção de um ser sem capacete tocando a sonda. O formato da cabeça é nítido, os braços também, mas tudo inconcluso. Ufólogos ao redor do mundo se adiantaram e afirmaram se tratar de um ser vivo, habitante de Marte, corroborando a tese de que existe vida fora da terra. A agência tratou de contrapor os ufólogos e afirmar se tratar de “excesso de imagens”, distorção de imagens. No mínimo, estranho.

Porque a NASA divulgou a foto. A NASA sabe que existe vida fora da terra, possui vários registros e provas disso recolhidos ao longo do século XX e começa a preparar a terra para revelações que ficarão mais nítidas a partir de agora. Para evitar um grande cataclisma emocional, um pânico global, começa a soltar aos poucos informações sobre aquilo que já sabem.

A declaração do ex-ministro da Defesa do Canadá, Paul Hellyer, 89 anos, de que existem ET’s trabalhando para a maior nação do mundo, não ganhou a repercussão que deveria na época. Na verdade, ganhou menos destaque do que a bunda da atriz Paolla Oliveira na minissérie Felizes para sempre? uma semana após a aparição do derrière da atriz continua ganhando destaque na mídia brasileira enquanto assuntos que mereceriam maior relevância, não.

Os sinais de que não estamos sozinhos já estão entre nós desde as primeiras civilizações, Egito, Grécia, Roma, Babilônia, Asteca, Maia, Inca, África, e ainda assim, por conta do problema da falta de comprovação lógica, continuamos olvidando de que a nossa forma de percepção do universo é limitada, condicionando o nosso olhar para enxergarmos o que queremos ver.

Nem mesmo os indícios paradigmáticos de Ptolomeu, os pré-socráticos, Galileu, Copérnico, Newton, Bolt, Heisenberg, Einstein e tantos outros desafiadores do nosso conhecimento, parece ter amolecido os corações de cientistas, políticos, enfim, a no mínimo se questionarem de que podemos estar errados sobre quase tudo, de que os nossos cálculos matemáticos, químicos, físicos, a nossa razoabilidade filosófica, histórica, sociológica, antropológica, estão assentadas em paradigmas de pensamento que foram importantes durante muito tempo, mas que hoje precisam no mínimo serem colocados em xeque, como de fato estão, não pelas instituições guardiães do saber, como as Universidades, Institutos de pesquisa, agencias de financiamentos, agências espaciais, Ministérios de governos, imprensa, a educação como um todo.

Já passamos pela ideia de que certas civilizações eram o centro do Universo; Babilônia, Egito, Grécia, Inca; já passamos pela propagação de uma única verdade religiosa, como o cristianismo medieval e toda derivação disso; já sentimos o gosto da moderniste, modernidade, prometendo esplendor e redenção pelas vias do racionalismo iluminista ocidental; vivenciamos a crise pós-moderna, fruto do vazio das metanarrativas, de projetos políticos que se furtam à devastação do capital econômico; está na hora de experimentarmos a dúvida quanto aos nossos pressupostos lógicos, modificarmos nossos currículos escolares e tentarmos um pensamento holístico, integrado, menos pragmático e mais sensível, de vivenciarmos uma vida não em decorrência do estado, sobretudo com tais bases da política mergulhada na antiética e nos resultados como se a vida fosse a comutação demanda-resposta.

Sinais como a foto da NASA indica que em breve seremos impactados com um conjunto de informações que modificará radicalmente nossa percepção sobre o mundo. Esperemos que não ocorra depois de destruirmos os recursos naturais da terra com essa lógica irracional de nos relacionarmos com o planeta.

Seres extraterrenos estão entre nós há milênios nos alertando sobre esse perigo, respeitando nossa evolução, nosso livre-arbítrio, tendo paciência ante nossa caoticidade. Só não quem não quer.      

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Sobre a prepotência ocidental e os atentados ao Charlie Hebdo


TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE EM 


http://www.pensarsa.com.br/sobre-a-prepotencia-ocidental-e-os-atentados-ao-charlie-hebdo/




O mundo continua estarrecido com os atos extremistas dos terroristas que atacaram o jornal francês Charlie Hebdo e agora o jornal Alemão Hamburger Morgenpost queimando-o, ainda bem que sem vítimas. Quando ocorreu o atentado em 11 de setembro de 2001 o mundo ocidental voltou seus olhos de ódio para Osama Bin Laden sem se questionar o porquê de tal sentimento. Em fins da década de 70 do século XX os USA haviam equipado a Al-Qaeda municiando este grupo que no futuro seria cognominado de terrorista contra a presença Soviética no Afeganistão.

Nada justifica um ato de tamanha insanidade como matar 12 jornalistas num ato de extrema irracionalidade, não se pode revidar com morte o humor de uma charge. No entanto, há que se questionar os limites da crítica jornalística e chargista, afinal, as charges não apenas debochavam do profeta Maomé como o humilhavam, e nisso nós ocidentais somos expert em reivindicar o princípio de respeito e liberdade de expressão, inclusive religiosa, ainda que na prática não façamos. Essa postura francesa do Charlie Hebdo não nasceu com eles e suas raízes remontam ao nascimento do Ocidente.

Até o advento do Renascimento o grupo que no futuro seria cognominado de mundo ocidental era sucursal da civilização islâmica, dominando a península ibérica, tendo inventado o astrolábio, fazendo cirurgias cranianas, com uma literatura fantástica, um desenvolvimento cultural extraordinário antes da guinada para o extremismo xiita. O processo de divisão interna da civilização islâmica criou uma disputa acirrada pelo controle das regiões e o aparecimento de uma prática e discurso ultra fanático.

Acontece que o Ocidente estigmatizou o Oriente colocando-o como símbolo antitético, um referente não apenas a não ser seguido, como eliminado. Os elementos constitutivos do Oriente, dentre eles a religião, passaram paulatinamente a ser perseguidos por aquilo que o Ocidente elegeu como símbolo de civilização e progresso, a razão instrumental ocidental.

A razão instrumental ocidental, tendo também como vórtice de negação o extremismo da baixa idade média, cuja presença onipresente do Diabo preenchia o imaginário dos europeus, começou a eliminar do processo de construção da memória do pensamento ocidental a religião, como se os gregos, pilares deste princípio, não fossem extremamente religiosos, bem como os romanos. Ou seja, na construção do Ocidente capsularam Grécia e Roma como ícones da cultura ocidental, olvidando o papel da religião, ou pelo menos deslocando seu significado.

Daí pra frente já sabemos o final da história: séculos ao fio estereotipamos tudo que não tivesse como parâmetro o modo da razão instrumental ocidental de pensar, legando essas circunstâncias como “atrasadas”, “incivilizadas”. Usamos inclusive a superioridade ocidental para escravizar a África, para neocolonizar a mesma África e a Ásia, para criar o estado de Israel por suas vinculações com o capital ocidental, sobretudo inglês e estadunidense negando os direitos dos estados palestinos, para apoiar golpes militares na África e na Ásia, para vendermos armas para terroristas islâmicos, para destituir revoluções socialistas, como em Angola e equipar grupo de extrema direita como o MPLA, ou seja, bárbaros são os outros, são todos aqueles que não defendem nossas bandeiras, que se colocam numa perspectiva antagônica ao princípio régio ocidental de liberdade, igualdade e fraternidade. Quando o Ocidente foi livre, igualitário e fraterno?

O princípio da ação provoca uma reação. Quando a Al-Qaeda, naquele ato insano de explodir as torres gêmeas do World Trade Center chocou o mundo, os Estados Unidos responderam com uma perseguição atroz a Osama Bin Laden em pleno solo afegão e continuou a caça por dez anos. Depois, não satisfeito, a besta fera que responde pelo nome de George Walker Bush, inventou a maior mentira da história afirmando que havia encontrado armas de destruição em massa no Iraque matando Saddam Hussein e prometendo equilíbrio aquele país. Vimos o final da história.  

O assassinato dos 12 jornalistas franceses se justifica? Em hipótese alguma, foi um ato de extrema radicalidade, insanidade, de ataque à liberdade de expressão, ao jornalismo enquanto esteio de crítica aos que não possuem vozes e mecanismos de reivindicação de seus direitos. Lamento e fico consternado com as vítimas, mas me questiono se por vezes a própria imprensa não tem sido um veículo de propagação e reprodução de estereótipos, a islamofobia,  aumentando a insanidade dos extremistas.  

No caso do Charlie Hebdo também havia crítica ao cristianismo, mas a imprensa em geral faz crítica ao imperialismo francês? Ao imperialismo que saqueou as obras de arte egípcia? Ao que fizeram com a Argélia? Ao preconceito de cada dia aos pieds noir que vivem nos arredores de Paris? Quanto da riqueza francesa é fruto da exploração de suas ex-colônias? O ódio religioso existente em radicais islâmicos também foi nutrido pelo período de exploração econômica e política, sem falar na territorial.

Por outro lado, é claro que existe uma clara intensão dos radicais extremistas islâmicos em dividir o mundo, de propagar o ódio, de segmentar islâmicos e islâmicos, muçulmanos e judeus, muçulmanos e cristãos, instituir a insegurança como prática social, estabelecer o pânico, a paúra, etc, mas a minha pergunta é: qual a parcela do mundo Ocidental nisso?

É claro que o Estado Islâmico que vem ameaçando o Iraque (cujo EUA prometeu salvar), a Síria, e vários países, é uma ameaça global porque fere qualquer princípio de racionalidade e tem que ser combatido, mas quando afinal vamos entender de fato os princípios religiosos de outros povos, entender a diversidade cultural que tanto o mundo ocidental propaga, conviver com a diversidade?

Com todo o risco de ser não compreendido e duramente criticado, e que fique claro que não apoio nenhum ato de terrorismo ou de insanidade, as charges do Charlie Hebdo ao profeta Maomé são ofensivas, grosseiras e desrespeitosas. Vamos impor limites à imprensa, controlar o seu conteúdo? Certamente não, mas precisamos discutir responsabilidades. Nada está acima de tudo, nem mesmo o humor do Charlie Hebdo.


Termino com uma mensagem de solidariedade aos parentes, amigos dos chargistas. Espero que isso nunca mais se repita, que ninguém tire a vida de outrem por conta de uma piada, mas que passemos a criticar também os atos nossos terroristas de cada dia. Não se mata apenas com uma pistola automática, com bombas, mas também com exploração econômica, política, territorial, com preconceitos e estereótipos.       

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A vida na tela e nas páginas


A convite do meu amigo Marcos Fábio, escrevi esse texto para o site de ideias Pensar/SA. Segue abaixo o link do post


http://www.pensarsa.com.br/a-vida-na-tela-e-nas-paginas/



Quando Platão em O Fedro conotou a diferença entre a poesia, a história e a filosofia estava demarcando uma posição que seria legitimada séculos depois pelo que seria cognominado de mundo ocidental quanto às funções da poesis, da pesquisa e do filos.

Tal diferença consistia na composição de que tanto a poesia quanto a filosofia versavam sobre o inefável, o não-dito, enquanto a história só poderia narrar sobre o real acontecido. A poesia e a filosofia passavam a se encarregar do hiato, do vazio, do silêncio, ainda que pronunciado. O falar literário e o filosófico eram e são formas inescapáveis de anunciar algo que não se sabe, mas que precisa ser dito.

Séculos depois de Platão mil teoremas já foram escritos para descrever o sentido da poesia e da filosofia, todos sem um ponto final. Há algo de mistério em elucidar o que se esconde por detrás do cosmos, pletora relação de ligação com a existência humana.  A arte, atrelada à poesia, ainda se sentiu mais leve quando se colocou na condição de não ser exato, exatamente como amor não cabendo em si.

Assim, poetas, literatos enfim, esses filósofos da arte, da vida, cuja capacidade de descrever o que poderia ser, tem ao longo dos tempos se enredado na difícil tarefa de escrever sobre a vida logrando total êxito. Não se trata de questionar porque tantos alfarrábios, tantas bibliotecas repletas de histórias sobre vidas imaginadas com pintadas de encenações autobiográficas se avolumando sem que se chegue a uma definição sobre o que seja existir, e sim, porque exatamente a não definição do que venha a ser existir impulsiona a necessidade de tantos escritores tentarem decifrá-la. O mistério talvez seja esse: a vida se apresenta da forma como a concebemos, por isso cada um compõe seu enredo, sua trama, monta sua história.

Não satisfeitos apenas com a capacidade imaginativa da literatura em papel os irmãos Lumiere resolveram dar movimento as palavras criando um cinematografo, uma espécie de literatura com imagens em movimento, depois resignificado e reelaborado por Chaplin cognominado de cinema.
De lá pra cá milhões de pessoas ao redor do mundo começaram a dar movimentos aos conjuntos de sonhos indecifrados, particularizados, mas quando expostos numa tela passaram a ter correlação com outros sonhos ou possibilitando a efervescência daqueles que estavam submersos.

O movimento de busca pelo sentido da existência na filosofia, na literatura e mais contemporaneamente no cinema não é aleatório. Cunhou-se inclusive a expressão de que a arte imitava a vida, de que buscávamos a arte porque a realidade era insuportável, a arte tinha a capacidade de elevar nossos espíritos, nos colocar numa condição menos miserável, etc. Tudo factível, producente, encadeado, mas o que tem passado cada vez mais despercebido, sobretudo porque tanto a literatura quanto o cinema também se transformaram em elementos da indústria cultural, mercadoria, entretenimento, necessidade de consumo, é o que estava presente nos compêndios de Platão de que a arte, e nisso se inclui o cinema, não imita a vida, é representação dela, é encenação da captação do narratário compreendido em outras dimensões sensíveis, cuja a realidade lógica, produtivista não conseguem alcançar.

As pessoas não apenas se espelham em personagens dos romances, filmes, se sentem imanadas com elas, elas se conectam com uma dimensão da existência perceptível no âmbito das artes por uma janela que o artista e todo aquele que se vincula a ele, inclui o receptor, enxerga pela fresta do buraco da consciência universal.

As pessoas ao lerem literatura, ao assistirem filme, ao se conectarem com um argumento filosófico, estão se reconectando consigo mesmas exatamente por saberem em algum lugar de si, talvez no plano do inconsciente, saibam que a vida é mais bela que a crueza da dura realidade objetiva. Portanto, a arte não imita a vida, ela reescreve de forma legível, sensível às pessoas que já se esqueceram do que viveram e de como é viver de forma mais sutil, leve, bela. Por isso nos impactamos diante de um quadro, uma escultura, uma fotografia, uma instalação, um poema, um filme, um teorema.

A vida, que não se cansa de reviver-se nos outros, encontra meneios para nos tocar, beijar a boca, fazer correr uma lágrima do rosto, tirar suspiros, e nos lembrar que também somos heróis e bandidos, mocinhos e vilões, luz e sombra, corajosos e covardes, leais e falsos, fieis e infiéis, honestos e desonestos, sem um caráter moralista, condenador, apenas dialético, mutante, cambiante, impermanente, incompleto... como as obras de arte.      



Entrevista com Arton, de Sirius. Parte II

  Entrevista realizada no dia 14 de fevereiro de 2024, às 20:00, com duração de 1': 32'', gravada em um aparelho Motorola one zo...