terça-feira, 15 de julho de 2014

“Olhos que não posso ver”.


 JOSÉ ANTONIO BASTO
Poeta


Quanto tempo sem te ver/ Hoje eu quero recordar/ Os seus beijos seus carinhos/ Que eu não consigo esquecer/ Eu não sei por onde andas / Talvez nem lembre o que passou / Mas eu não esqueci ainda / Serás sempre o meu amor. Refrão: “Vou vivendo/ E só te encontro nos meus sonhos / E cada dia mais distante / Dos olhos que não posso ver”.  Assim é a música de Bartô Galeno, um dos maiores ícones do brega romântico brasileiro. O “Eu” lírico adentra no mais profundo sofrimento amoroso, numa intensa saudade da mulher amada tentando recordar momentos vividos e não vividos quando juntos eram felizes. Os afagos do coração dilacerado pela saudade incontrolável deixa no ar as chamas do pranto derramado pela dor de não ter lutado em busca da felicidade junto a pessoa amada. A encarnação de não conseguir esquecer o único amor fica abismado e indeciso de acreditar se o seu amor ainda lembra de alguma coisa, pois o ser que clama e sonha com mais uma chance reafirma com pura convicção e sem medo de recordar que ainda ama de todo coração. Melancolicamente o “Eu” lírico tenta viver mesmo sabendo que há tempo foi condenado a penar por amor, a fantasia então nesse instante entra em cena na proporção em que o mesmo diz que só encontra a pessoa amada em seus sonhos, fazendo morada um ar de platonismo sobrenatural que aquela alma até então imaginada gêmea está a cada momento mais distante da ótica que o amante não pode ver. Para acentuar é importante saber que a coisa que se diz “amor” desde os primórdios da humanidade que é cantado por poetas e cantores, pois atire a primeira pedra quem nunca passou por essa experiência no que se diz respeito algum relacionamento. Temas como saudade, sofrimento, sonho, distancia... emfim são tijolos que compuseram e compõe a construção de uma boa poesia. Sabe-se de práxis que a tristeza amorosa se torna bonita em música. Quando se estuda o ensino médio, os alunos são obrigados a passar por vários períodos literários (escolas literárias e movimentos de épocas), são muitos no currículo, mas o curioso é que apesar de tantos períodos o mais marcante foi o “Romantismo” - com a melancolia de sempre, pode até ser chato ainda nos dias de hoje se falar em pessoas românticas que escrevam cartinhas de amor decoradas. Chegou um tempo em que os cavaleiros tratavam suas damas com respeito... Era o tempo do tradicionalismo das serenatas nas calçadas e janelas, o tempo em que as músicas tinham letras, tempos estes que não voltam mais. Isso ainda se pode perceber na lírica de Bartô Galeno e de muitos nomes da MPB. A música romântica tem suas grandes diferenciações dos outros estilos e gêneros é um martelo que bate e zine no eco que o mundo inteiro ouve sua pancada. Em “Os olhos que não posso ver” esses conjuntos de virtudes estão interligados sobre um fio condutor que leva as personagens junto a um mundo de ilusão que pode ser tornar real dependendo da força de vontade para a realização desejada. Castro Alves -, poeta da terceira fase do romantismo no Brasil completa a temática dessa explicação em seus versos: “O coração é o colibri dourado / Das veigas puras do jardim do céu. / Um - tem o mel da granadilha agreste, / Bebe os perfumes, que a bonina deu. / O outro - voa em mais virentes balças, / Pousa de um riso na rubente flor. / Vive do mel - a que se chama – crença -,  / Vive do Aroma - que se diz – amor”. Esse é o poder da canção e das palavras amorosas que apesar da época em que nasceram atravessaram as barreiras do tempo. E aí Camões estava certo quando escreveu: “Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei por quê?




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