terça-feira, 29 de janeiro de 2013

ciume e propriedade

Uma garrafa de cachaça do interior do Maranhão sobre a mesa. Uma mariscada preparada pelo Flavio. Legítimos queijo parmesão e salame italianos. Chocolate. Um terraço aprazível: brisa do mar, cheiro de orvalho, três amigos reunidos, afetos recobrados, Lucía e Milene fazendo algazarra.

É sempre sublime a passagem de Cesare Paltrinieri pelo Brasil, ocasião para nos reunir e colocarmos os papos em dia; a situação da Itália; a perspectiva sobre o Brasil; a situação fundiária – Flavio é da CPT (Comissão Pastoral da Terra) –, filosofia, literatura e.... Tá faltando alguma coisa? Claro, a questão política. Mentira, mulheres... 

Ano passado, quando a corriola n² se reuniu (Wagner Cabral, me permita o empréstimo de corriola, afinal, a verdadeira corriola é Flavio, Wagner, Marcelo Carneiro e Claudio), levei para o bar do Léo, na ocasião o grupo estava completo: eu, Flavio, Cesare, Mario. Três italianos e um brasileiro. Discutíamos sobre neo-liberalismo, especulação imobiliária, a possível queda de Berlusconi, música brasileira, quando mais que de repente surgiu o papo freudiano que incomoda 99,9% dos homens: o tamanho do pênis. Confesso que aquela conversa estava se alargando por demais, então, tomei a decisão de fazer uma pesquisa de campo. Olhei para os lados e vi uma linda jovem sozinha tomando cerveja e não me fiz de rogado, mesmo com o risco de tomar um tapa na cara, fui até ela e disse: 

 – “Boa noite, perdoe-me a intromissão, mas por obséquio, estou reunido com 3 amigos, três anjinhos barrocos (risos) naquela mesa e uma dúvida atroz tomou conta de todos nós: o tamanho do pênis do homem interfere no prazer e performance sexual?”

Ela não se fez de rogada também, educadamente se levantou, foi até a nossa mesa e disse:

– “Olha, não é porque a varinha é pequena que não faz mágica”... Gargalhadas. 

A italianada não sabia onde enfiar a cara, ficaram ruborizados, perplexos, não acreditando na situação. Fui até ao banheiro porque não me segurava de tanto rir. A bela jovem na verdade era uma amiga minha que entendo a situação, mesmo não combinando nada antes, entrou na brincadeira e fingiu não me conhecer. 

Esse assunto voltou à baila semana passada. Flavio virou para mim e disse: – “Aquela jovem do bar do Léo ano passado estava mentindo... O tamanho do pênis interfere sim. Risos... De novo não... Foi aí que surgiu mais uma polêmica: ciúme e propriedade.

Eu e Flávio defendemos a tese de que o princípio do ciúme é a noção de propriedade. Cesare concorda, mas peremptoriamente discorda ao afirmar que não são a mesma coisa. Lá se vão horas a fio de debate. 

Depois de tanto tentar explicar seu ponto de vista, Cesare olhou para minhas filhas, já dormindo no meu colo, e disse: – “Quando elas começarem a namorar você sentirá ciúmes, mas sabe que não são sua propriedade”. Pronto. Convenceu-nos. 

Então, Flavio, versado e doutor na questão agrária, usou seu repertório sobre o tema e começou a dissecar sobre os tipos de propriedades do amor, usando sempre como metáfora a questão da terra. Existe amor, quer dizer, terra, propriedade, que é de grilagem, latifúndio, usucapião, arrendada, meeiro, posseiro, terra quilombola, indígena, por adiante. Ou seja, quem se sente dono de alguém, mesmo não o querendo mais, se enfurece ao perceber algum invasor ocupando terras ociosas dantes de outro domínio.

Segundo Flávio, é impressionante como a gente sempre quer se sentir dono de tudo. Assim nascem os conflitos agrários, assim nascem as disputas por propriedade sobre alguém.        
















9 comentários:

  1. aproveitando o embalo das discussões, quero também impor meu ponto de vista. o tamanho da ferramenta mesmo não sendo expert, não influencia de uma maneira bastante considerável, agora as preliminares devem ser bem exploradas pois as mulheres adoram ser acariciadas. PS muito interessante o assunto pobreza do povo.

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    1. obrigado pela participação, não queira saber o quanto teu comentário vai aliviar a cabeça de muitos homens. obrigado pelo seu comentário em "a pobreza do povo"

      abraços

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    2. perdão Henrique errei o título o correto é pobreza politica do maranhão,desculpa. aproveitando, gostaria que vc escrevesse sobre a igreja católica, pois à uma apatia em seus cultos e o número de fies esta altamente reduzidos, algo está acontecendo,perdão não quero constranger a ninguém, estou agindo pela minha visão de historiador.

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    3. olha, não sei se tenho propriedade para escrever sobre igreja católica, mas posso escrever um artigo colocando minhas impressões.

      abraços

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  2. hahahahahhaha...eita Henrique!!Rachei de rir!!!
    Yohanna

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  3. A questão do ciúme sem sombra de dúvida é algo que me atormenta a muito tempo... Até que hoje encontro-me sob controle, mas a um tempo atrás eu era do tipo que batia a cabeça na parede só de imaginar que outra mulher pudesse chegar perto do "MEU HOMEM"... O sentimento de propriedade tomava conta de mim...
    Eu penso assim (mesmo sabendo q pode ser loucura): Que o ciúme existe de varias formas e em vários graus de intensidade,onde dependerá das diferenças que existem em cada pessoa... No meu caso sou muito ciumenta, quero ser dona do meu namorado, tenho ciúme porque o considero MEU... Tenho ciúme dos meus amigos, mas não porque os considero MEUS, mas porque tenho medo de me sentir só, sem alguém para escutar minhas loucuras... Tenho ciúme de minhas irmãs, mas não porque quero ser dona delas, mas porque tenho medo que alguém as machuque e o tempo de convivência e a ideia de ser algo tão próximo a mim me dá essa sensação de preocupação! Assim o ciúme torna-se um misto de inúmeros fatores conjuntos: medo, preocupação, apropriação, saudade, solidão, carência... Que misturam-se a partir de cada forma de pensar e diferencia-se a cada situação!
    Dessa maneira, acredito que o ciúme que tu Henrique sentirás das tuas filhas quando baterem em sua porta com o namorado, não é de apropriação, mas de carinho, de medo q aquele individuo não supere suas expectativas de felicidades para ela!

    "Viajei total aqui" kkkkkkkkkkkk

    Ótimo texto Henrique - OBS: Eu piroo quando tu fala nesse tipo de assunto ( Amor, ciúme, paixão, sexo ...) Adoraria que escrevesse mais sobre esses conflitos da mente humana! rsrs
    Bjooooo

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    1. Flavinha, vou tentar escrever mais sobre esses assuntos.

      beijos

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