Há pássaros
que se desfalecem ao pôr-do-sol
e ao
amanhecer, percebendo que estão vivos, cantam a mais fina sintonia da manhã,
os filmes
repetem histórias de amor, às vezes as frases se repetem, tantos amores
desfeitos, tantos reavistos quando amanhece o dia,
as
músicas também possuem o mesmo repertório: o amor encena, em cena: a voz, os
instrumentos, as melodias, o timbre, o motivo para cantar,
é um
ciclo interminável esse de viver, todos os dias as coisas se repetem, só que
nunca da mesma forma,
ontem a
reclamação pela desmesura da atitude e da palavra, hoje, a esperança de que
a desmesura vire a medida certa do afeto, do toque, do olhar,
a escrita
segue a mesma lógica: parece uma sensação eterna de déja vù, pois já vimos
mesmo, só que outra forma, com outras pessoas, e quando acontece com a
gente é como se fosse a primeira vez,
e de fato
é sempre a primeira vez, mesmo quando a gente reescreve a palavra nunca dita
e quando pronunciada deixa de ser nosso repertório para tornar-se
lugar no universo, aí, quando alguém a reencontra e a reusa para expressar uma
sensação parecida, é como se aquilo que fosse nosso fosse do outro também,
por isso
nunca se diz a mesma coisa da mesma forma,
tal como
o pássaro, mesmo repetindo o mesmo timbre de canto, nunca consegue imitá-lo,
o sol não
é mesmo, tampouco o amanhecer,
sabe-se
lá o que o espera nesse novo dia, quantas árvores encontrará, se algum parceiro
para acasalar,
se algum
ninho por fazer, até o que pôr-do-sol, o ocaso de cada dia, desfecha a cena de
um turno para que a lua a partir daquele instante seja a escuridão da luz dos
que a buscam,
diferentemente
do sol que irradia luz por onde passa, a lua para percebermos sua
luminosidade por vezes é preciso olhar para ela, sempre ela, está sempre lá, mas
nunca é da mesma forma,
há sempre
um detalhe do dragão de seu Jorge que a gente nunca observou,
da mesma
forma que o mesmo canto do pássaro repetindo-se todos os dias é sempre
melodioso, gracioso de se ouvir, se confundindo com o farfalhar das árvores,
movimento
diacrônico de ir para lá e para cá, todos os dias,
tal
como as histórias de amor dos filmes, nas músicas, nos textos, que sempre
continuarão a existir porque o que há está em todos os lugares, assim como nós,
inseridos
num movimento cíclico, nos repetindo porque ninguém pode deter a vida,
muito
menos a capacidade de sentir
sempre
as mesmas sensações
só que de
forma diferente
Lindo, lindo, lindo! Muito Bom Henrique!
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