No
alvorecer do ano 1000 centenas de seitas afloraram no seio da Europa em virtude
do suposto fim do mundo e do retorno de Cristo. Houve desespero e suicídios coletivos,
pessoas se vestiram de branco e foram para os pontos mais altos de seus países
esperando o retorno do Messias descendo
com anjos e em nuvens de mil megatons.
Antes,
o declínio do esplendor grego e o aparecimento do império macedônio
e, a decadência do império romano tempos depois, também foram vistos
como prenúncios do fim dos tempos.
O
medo imperativo no período medieval colocava o fim do mundo como
horizonte bem mais que a certeza da vida. A todo instante qualquer sinal: fome,
peste, guerras, eram motes claros de que uma etapa estava a ser superada, o
vindouro era a esperança.
Um
dos motivos da derrocada azteca para os espanhóis era a mitologia do retorno de
seus deuses vindos do mar. Quando os espanhóis apontaram suas caravelas, os
aztecas os viram, mas não os enxergaram, vez que pela falta de referência
visual acerca daquela imagem, não conseguiam perceber do que se tratava, pautados também na confiança da
mitologia. Por alguns instantes eles confundiram seus algozes com seus deuses,
ainda mais que as lendas falavam do fim de uma etapa.
Em
todas as sociedades em maior ou menor grau, início e recomeço, finitude e
eternidade, são pares antitéticos, aparentemente antitéticos.
A ideia de finitude carrega em si potencialmente a pletora força do
recomeço, da renovação.
A
mitologia maia, que anunciava o fim do mundo para o dia 21 de dezembro de 2012,
não teria tanta força fora de seu núcleo criador se a sociedade global, imersa
em arquétipos de destruição e renovação, não contivesse em si elementos de
crença de que possivelmente isso pode de fato se realizar. A questão é: fim de quê? Qual mundo? Por que tanta
expectativa, anseio, curiosidade?
A
crença no fim do mundo naquele
período estava carregada de potencialidades de seus contrários, ou seja, como
nada aconteceu milhares de pessoas ensimesmadas bradaram a bravata maia,
reafirmando suas convicções de que nada vai acabar posto que nada faz
sentido.
Agora,
como o mundo não se findou, muita coisa não mudará para aqueles que acreditam
que um modelo civilizacional chegou ao seu limite e a adesão na crença do fim
do mundo carreou, mobilizou pessoas ao redor do mundo, ainda que
sem vínculos maiores com a mitologia maia, entretanto, por alguns
instantes expectaram, visualizaram que algo de grandioso pudesse acontecer
A
questão é: qual mundo vai acabar e para quem? Para aqueles que querem um mundo
melhor, que não desistem da esperança, do amor, e sabem que a jornada em busca
do self é longa, por isso projetaram no outro, no caso o
restante da humanidade, as sombras de suas crenças e convicções, bem como seus
medos.
O
dia 22 se levantou como outro qualquer, mas muita coisa mudou exatamente por
nada ter acontecido. Fica a suspensão, a desconfiança de que um dia tudo isso,
a terra irá se transformar. Isso está nos arquétipos humanos, carregamos
plenipotencialmente conosco.
Na
virada do milênio aconteceu a mesma coisa. Criou-se um alvoroço global, até a
informática teve que ser reformatada. No ano 2000 não aconteceram tantos suicídios como no
ano 1000, mas muita especulação foi gerada. O mundo não acabou, nem por isso desapareceu do horizonte a especulação
em torno da mitologia maia sobre o dia 21 de dezembro de 2012.
A
virada do milênio para o ano 2000, ainda que o século XXI só
tenha começado no ano
2001, 2000 ainda pertencia ao século XX, foi objeto de 5 longas metragens em 5
países diferentes. A ideia era saber como a virada do milênio seria
percebida em vários lugares. No Brasil, Daniela
Thomas e Walter Salles filmaram O Primeiro Dia.
Não
sei se o dia 22 de dezembro de
2012 foi filmado, documentado, mas não será a primeira vez que alguém
falará em fim dos tempos.
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