quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O desdobramento da palavra

Robert Darnton, historiador francês, em O iluminismo como negócio, analisa o processo de produção, distribuição e circulação da obra A ilustração, supostamente um dos pilares e influenciadores da revolução francesa. A ilustração, conjunto de verbetes acerca de temas gerais e variados, foi considerada uma obra subversiva, portanto, proibida pela Igreja Católica. E, de fato, foi.

Nem tanto pela associação forçada de que seus idealizadores eram burgueses, logo, as ideias ali contidas possuíam um caráter burguês, e sim, por aquilo que as palavras, seus meneios, estratégias imagéticas e discursivas foram capazes de produzir nos seus leitores.

Pouco afeitos à leitura, os neófitos leitores se depararam com um universo completamente novo, desdobrando-se em imagens que os verbetes ilustravam. Com o tripé: filosofia, teologia, necromancia, por vezes expressões e imagens aparentemente banais, continha ideias subversivas, levando o leitor pelo caráter do subtexto abrir links com situações e reflexões acerca dos assuntos tratados. Afora o caráter metalinguístico, ou seja, cada vez que os leitores visualizavam uma situação, abriam-se novas janelas dentro de suas mentes.

Esse poder da palavra encanta. É claro que ela é uma das linguagens, e não a linguagem, no entanto, como é com ela que dialogo, tergiverso, alitero, me apaixono cada dia mais pela capacidade criativa, imaginativa, construtiva de significados do mundo. 

Uma vez diante da pletora situação de descoberta pelas palavras nunca mais se é o mesmo. As palavras, como qualquer outro texto, possuem a capacidade de ilar uma percepção da realidade, aprioristicamente tomado pela observação do olhar para o desvelamento de mundos a serem descortinados. A literatura faz muito bem isso.

Quem nunca se sentiu numa cena descritiva de uma personagem? Chorou, sorriu, vibrou, amou com ela? Quem nunca sentiu sua vida emprestada pela pena do escritor e ficou com a sensação de que ele falava de si? Quem nunca imaginou situações inimaginadas, mas quando se imaginou, passou a existir, embora com muita dificuldade de traduzir em palavras. Quando encetadas sob forma dessa linguagem deixaram de ser uma condição possível para a real, as palavras eternizam as imagens

2 comentários:

  1. seguindo seus raciocínios, o poder da escrita, da palavra pode influenciar e até mudar padrões, e a influencia das ideologias até que ponto pode ser prejudicial ou trazer conforto para a sociedade

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    1. não sei bem se as ideologias podem trazer algum tipo de conforto, afinal, o sentido marxista do termo indica alienação, logo, marx propõe uma contra-ideologia. hoje, o conceito mudou muito, mas penso que um dos problemas da atualidade é exatamente a falta de ideologias, que no fundo já é uma ideologia, visto a ideia de não mudar nada é confortável a situação vigente. Ideologias podem ser prejudiciais sim: nazismo, fascismo, racismo, etc. por isso, a perspectiva de luta, de mudança precisa estar no horizonte.

      O que move a humanidade é a mudança, não o conforto.

      obrigado por sua participação. adorei teu comentário

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