Para Sara, Bruno e Davi
COISAS PARA SE GUARDAR:
Estava escrito num metrô de Lisboa: “Ser autor é
trazer-nos inédito o que ainda pertence ao conhecimento geral”;
“Admiro as pessoas que nunca deixam de existir”;
Uma chuva fina escorre a água levando a folha seca que caiu
do outono;
O bacalhau no restaurante do Seu Antonio em Picoas;
O Tejo que é de uma dimensão do mar;
Visitar a terra dos meus antepassados em Vila do Conde;
Saborear uma “francesinha” em Guimarães;
Perceber os olhares que dizem tudo; é um ser sem ser; um
não querer sabendo por que; um não-falar porque a mudez é a melhor forma de
expressão; um não-tocar porque sente;
Ver a espumosa banhando a avenida do Brasil no Porto;
Pisar a areia grossa do mar do Porto, sentir a água gelada
encharcando meu tênis de pano, molhando as meias, banhando os pés;
Ver o mar agitado arrebentando nos faróis;
Não ter palavras diante da beleza da Ribeira;
Andar nas nuvens olhando o Porto lá embaixo lembrando um presépio,
ver as luzes da cidade refletidas no D’ouro como espelho de uma noite de céu
estrelado;
Morrer de rir com as loucuras de Sara, estupefar-se com a
inteligência de Bruno;
Se emocionar ao ver as lágrimas do miúdo Davi se despedindo
de mim, não entendendo seu português gálico, mas compreendendo que
a linguagem do afeto é universal;
Jogar uma garrafa ao mar com um bilhete: “meu lugar é onde
meu coração está. Ele está com minhas filhas e aqui agora ao mesmo tempo”;
Dar uma fugidinha em Madrid, comer um pato ao molho de
salsa;
Dar boas notícias às pessoas;
Sentir os olhos mareados ao falar com minhas filhas;
Ser recebido calorosamente pelos meus amigos Cesar
Paltriniere e Anna Casella na Itália;
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