sábado, 27 de outubro de 2012

Não se enganem com o Brasil

Arrumo as malas para mais um circulo de conferências na Europa e gostaria de desembarcar no velho mundo levando boas noticias sobre as circunstâncias sociopolíticas brasileira. Não levo tantas boas noticias assim.

O mundo afora acompanha com entusiasmo o avanço econômico brasileiro, no entanto, tal avanço não traz consigo grandes modificações no panorama sociopolítico. Se por um lado retiramos 25 milhões de brasileiros da condição de pobreza extrema, aumentamos o número de mulheres em cargos de chefia e nos quadros burocráticos, aumentamos a entrada de brasileiros no ensino superior, por outro, possuímos ainda uma alta taxa de iletrados, os números da violência são altíssimos, a questão da saúde pública é caso de policia, a educação formal é uma das piores do mundo, há corrupção generalizada, uma verdadeira endemia.

Mas o pior é a constatação de que crescimento econômico não é sinônimo de amadurecimento politico. O clima de euforia que tomou conta do país trouxe consigo o abandono de velhas bandeiras ideológicas, o massacre de movimentos sociais, ou o silenciamento, o avanço do agro-business destruindo práticas comunais e  esvaziando demograficamente regiões inteiras do país, a judicialização de questões campesinas, o avanço do capital aumentando a percepção de que o pragmatismo politico é mais importante do que algumas bandeiras sociais.

Desmata-se grandes extensões de árvores neste país todos os dias, mata-se índios,  assassina-se negros nas periferias das capitais, compra-se voto a luz do dia em plena véspera de eleição. Aliás, isso merece um comentário à parte.

Às vésperas do segundo turno das eleições municipais em 50 municípios brasileiros, neste exato momento, bandeiraços e apitaços agitam as ruas, sobretudo das capitais. Militância politica? Quase nada, em geral, manifestantes pagos a R$ 200,00 por pessoa para vestirem camisas dos seus candidatos, plotarem seus carros e encherem os tanques de combustível na maior cara dura, sem nenhuma bandeira ideológica. É o jogo do toma lá da cá; faz-se campanha para quem pagar mais. Foi-se o tempo que a militância espontaneamente tentava convencer os indecisos a mudarem de opinião.

Esses são apenas alguns dos prejuízos de um crescimento econômico não vir acompanhado de um avanço consciente da cidadania. Os brasileiros ascenderam à condição de cidadãos pelo consumo, não pela construção de uma sociedade mais justa e equânime.

Não se enganem, aqui nem tudo são flores. Estamos muito longe de um verdadeiro desenvolvimento social.  

Um comentário:

  1. Saudades dos tempos em que saíamos às ruas agitando bandeira nas mãos e proferindo palavras de ordem... Hoje, dia de eleição, chego a esquece-la: ruas calmas, poucos transeuntes, silêncio quebrado apenas por policias que rondam a cidade para "garantir a tranquilidade" ou famílias que aproveitando-se da monotonia do dia vão à praia. O sonho acabou? Não, ele não acaba, pois não "jogo a toalha" antes do final da luta, e esta, com certeza não é exclusivamente minha, ela é de todos que, assim como eu, acredita em dias melhores.
    Parabéns pela crônica. Mais uma vez tu acertou "na mosca".
    Bj no coração, Margô Maia

    ResponderExcluir

Entrevista com Arton, de Sirius. Parte II

  Entrevista realizada no dia 14 de fevereiro de 2024, às 20:00, com duração de 1': 32'', gravada em um aparelho Motorola one zo...