Edward Paul Thompson, historiador inglês, na obra Costumbres en Común,
precisamente o capítulo sobre a Cencerrada, envereda pela luta
de classes em meio às tradições, ritos, buscando na Antropologia a observação
do comportamento coletivo traduzidos na festa. A partir daí valoriza os
aspectos culturais enfatizando a resistência social numa sociedade em
transformação.
La Cencerrada era outra definição à forma inglesa
do rough music, espécie de manifestação social através de ritos
acompanhados de música, sons, encenação de um ritual de hostilidade a todos
que, de uma forma ou outra, transgrediam normas sociais estabelecidas.
Tais manifestações se corporificavam em teatralizações jocosas
usando palavras hostis, queima de símbolos locais, passeio de pessoas em mulas cuja moral estava em questão. O
casamento com fidelidade conjugal dubitável era um dos alvos preferidos
desta manifestação, ou, alusão às pessoas de comportamento sexual “duvidoso”.
A mulher, sempre vítima deste processo vexatório, característica comum em
sociedades de modelo patriarcal, tinham nos símbolos que lembravam sua figura o
ápice de sua “infidelidade” (skimmington).
Thompson assinala que em Grã-Bretanha estas manifestações tornavam
notório uma insatisfação popular mantendo dessa forma a circularidade, ora de
contestação do status quo, ora assumindo posturas “conservadoras”.
Isto sem dúvida era uma forma de auto-regulamentação social, provavelmente
surgido a partir do declínio dos Tribunais Inquisitorias Eclesiásticos.
A organização “informal” da Cencerrada, pautada às vezes na
violência, motivada na regulamentação da sociedade, alimentava-se da informação
da intimidade do outro, descoberta do outro; representado nas ações de
adultério, anti-decoro comercial, maus tratos aos filhos, etc, chegando às
vezes a vitima ao auto-exílio.
Enfocando a comunicação gestual como envio de bilhetes, cartas anônimas,
cartazes como forma de intimidação, Thompson centra no medo da relação entre a
Plebe e Aristocracia as lutas sociais.
Estas manifestações estão situadas na
órbita da antecedência dos grandes movimentos políticos sociais, no
“primitivismo pré-político”, por isso o declínio da Cencerrada esteja
provavelmente conjugada com a diminuição do poder masculino em razão das transformações
econômicas, alavancadas pela modernização das formas de produção agrícola e
industrial e o paulatino crescimento da mão-de-obra feminina (talvez
isto explique o desaparecimento de manifestação como a Cencerrada em sociedades
atuais).
Usei Thompson e a Cencerrada como contraponto a baixaria que a campanha politica tomou
em pleno século XXI. Ao ler as manchetes dos jornais ontem acerca do 2º turno
das eleições municipais na cidade de São Luís, fiquei me perguntando se de fato
já evoluímos politicamente e se questões pessoais já foram superadas, a tal
ponto que não sejam necessários baixaria, tanto disse-me-disse para se ganhar
uma eleição. O que os jornais mostraram ontem foi uma verdadeira Cencerrada em São Luís, a forma mais
baixa e vil para se atingir um fim.
A divulgação de um vídeo sobre uma "suposta" formação de uma milicia militar em favor da campanha do candidato Edivaldo Holanda, PTC, líder na pesquisa, feita pelo seu adversário, atual prefeito da cidade, João Castelo, PSDB, coloca em xeque a razoabilidade, o decoro e até mesmo a lucidez.
Esse tipo de estratégia só mostra o quanto ainda a democracia brasileira mais lembra uma arena sangrenta, um vale-tudo, onde até mesmo Anderson Silva, o grande spider, se recusaria a lutar, ele é ético, justo, e só vence por sua técnica, alguns políticos brasileiros sequer sabem o que é ética.
Esse tipo de estratégia só mostra o quanto ainda a democracia brasileira mais lembra uma arena sangrenta, um vale-tudo, onde até mesmo Anderson Silva, o grande spider, se recusaria a lutar, ele é ético, justo, e só vence por sua técnica, alguns políticos brasileiros sequer sabem o que é ética.
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